Forrozão da Serra 2023: Uma festa ensurdecedora que deixou sequelas invisíveis
A dor silenciosa dos fogos de artifício: TEA e a necessidade de conscientização
Serra dos Aimorés, MG – Nos dias 23, 24 e 25 de junho de 2023, a cidade de Serra dos Aimorés viveu intensamente a festa tradicional conhecida como “Forrozão da Serra 2023”. O evento, que reuniu moradores e visitantes de toda a região, foi marcado por momentos de alegria e diversão, mas também deixou uma marca profunda na vida de um cidadão que sofre de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Preservando a identidade desse indivíduo, trazemos seu relato angustiante sobre a experiência vivida durante a festa. Segundo ele, a hipersensibilidade auditiva o coloca em uma situação de extrema vulnerabilidade em ambientes com ruídos intensos. Durante a festa, ocorreu uma crise conhecida como “Meltdown”, caracterizada por explosões involuntárias de irritação e dores que afetam todo o corpo, semelhantes a dores musculares. Em seguida, veio a dor de cabeça e o “Shutdown”, um estado de “desligamento” em que parece estar em “outra estação”, sendo incapaz de responder ao ambiente. No dia seguinte, ele sequer conseguiu se levantar.
A queima de fogos de artifício, um dos pontos altos da festa, começou a se intensificar no dia 23, por volta das 23 horas. O impacto desses fogos nos ouvidos sensíveis desse indivíduo foi comparado a um forte empurrão inesperado, provocando uma série de sintomas debilitantes.
Diante dessa situação preocupante, buscamos o posicionamento do prefeito de Serra dos Aimorés, Iran Cordeiro, e do chefe de gabinete, Djalma Santos. No entanto, apesar de todas as tentativas de contato, não obtivemos resposta de ambos os representantes do poder executivo municipal.
Essa história dramática levanta questões importantes sobre a conscientização em relação ao Transtorno do Espectro Autista e a necessidade de considerar as necessidades das pessoas com essa condição em eventos públicos. Felizmente, há iniciativas sendo tomadas em outras partes do país para abordar essa questão.
No Congresso Nacional, tramita o Projeto de Lei nº 220, de 2023, de autoria dos Srs. Fred Costa e Delegado Bruno Lima, que propõe a proibição da comercialização de fogos de artifício com estampido em todo o território nacional. O objetivo é reduzir a poluição sonora e, consequentemente, minimizar os riscos para a saúde e o bem-estar das pessoas, além de proteger os animais que também sofrem com os impactos desses ruídos intensos.
Essa iniciativa é embasada em dados alarmantes. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o manuseio inadequado de fogos de artifício levou a mais de cinco mil internações hospitalares e causou 218 mortes no período de 10 anos, entre 2008 e 2017. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que os fogos de artifício podem causar perda temporária ou permanente de audição, afetando a qualidade de vida das pessoas.
Nesse contexto, é importante destacar que várias capitais do país, como Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Goiânia e Macapá, além de estados como Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Piauí, Rio Grande do Sul, Roraima e São Paulo, já proibiram a utilização de fogos de artifício com estampido, seguindo o exemplo de Belo Horizonte, que adotou essa medida em 2018.
A proibição dos fogos com estampido é uma maneira efetiva de reduzir os riscos e preservar a qualidade de vida das pessoas afetadas, como é o caso do indivíduo com TEA em Serra dos Aimorés. Essa medida também protege os animais, evitando seu desnorteamento, surdez, ataques cardíacos e até mesmo a morte.
Conclamamos as autoridades e a população a refletirem sobre a importância da conscientização e empatia em relação às necessidades das pessoas com TEA e demais condições de sensibilidade sensorial. É fundamental adotar medidas que promovam a inclusão e o respeito, tornando os eventos públicos acessíveis a todos.
A história do cidadão de Serra dos Aimorés nos mostra que a falta de consideração e de informação pode causar danos profundos e duradouros. O momento é de união e ação, para que eventos futuros não se tornem gatilhos de sofrimento e exclusão. Afinal, a verdadeira festa é aquela que acolhe a todos, respeitando as diferenças e promovendo a harmonia.
Esperamos que essa matéria jornalística contribua para gerar uma comoção social, despertando nos leitores a consciência sobre a importância de criar ambientes inclusivos e livres de riscos desnecessários. Unidos, podemos construir uma sociedade mais empática e acolhedora para todos.