Brasil

Chegada dos portugueses ao Brasil: descobrimento ou invasão?

Historiadores buscam desconstruir narrativa focada nos colonizadores

Essa parte da história muita gente já conhece: em 22 de abril de 1500, mais de mil portugueses, a bordo de 13 embarcações, chegaram à atual cidade de Porto Seguro, na Bahia, comandados por Pedro Álvares Cabral.

Centenas de anos depois, Cabral ainda protagoniza, nos livros de história, o chamado “descobrimento do Brasil”. O que poucos sabem é que esse episódio, segundo pesquisadores da história brasileira, não deveria ser conhecido dessa forma. O que de fato aconteceu não foi bem um descobrimento.

O professor de história da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Fabrício Lyrio, explica que a expressão é difícil de ser eliminada, mas o que ocorreu, na verdade, foi uma “invasão contínua”.

“Para a população que já estava habitando o continente da América, não teve nada a ver com descobrimento. Foi uma chegada de pessoas estranhas seguida de uma invasão. A disputa da palavra existe há muitos anos. Há uma versão oficial da história que sempre vai tentar trazer de volta o termo ‘descobrimento’. Talvez fosse, de fato, uma novidade para o europeu, mas para os povos nativos foi muito mais uma invasão”.

Para mudar essa visão romantizada sobre a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, o professor Fabrício Lyrio defende o papel dos livros didáticos e da atuação de professores e professoras em sala de aula, no debate sobre a versão oficial da História brasileira.

“Hoje temos muitos pesquisadores especialistas trabalhando na elaboração dos livros didáticos. E o próprio professor em sala de aula também contribui para essa desconstrução: que a história tem mais de um lado”.

Quem já segue essa linha é a professora de história Lavínia Rocha, que dá aulas em Belo Horizonte, Minas Gerais. Conhecida nas redes sociais pela dinâmica em sala de aula, ela defende que os estudantes sejam ensinados a questionar as versões da história e tenham o senso crítico estimulado.

“Eu converso muito com meus alunos que a história é construída por alguém, passa pelo ponto de vista de alguém. Nosso objetivo, hoje, é esmiuçar as histórias não contadas. Quando criamos os alunos com narrativas múltiplas, não só a dos vitoriosos, construímos uma subjetividade e uma empatia que são muito caras para a sociedade atual. O grande objetivo da educação é transformação social, é a busca por justiça social”.

Após a chegada ao Brasil, os portugueses passaram a colonizar o país e explorar recursos minerais e naturais, para obtenção de lucros. Para isso, exploraram a mão de obra indígena, de imigrantes e de pessoas trazidas do continente africano. A partir de 1550 e durante os 300 anos seguintes, quase 5 milhões de africanos e africanas foram trazidos à força para o Brasil e vendidos como escravos pelos portugueses. Cerca de 700 mil não resistiram e morreram antes de chegar.

Edson Araújo

Edson Araújo é jornalista DRT/ME - 006887/BA e desempenha a função de redator colaborador/correspondente do estado da Bahia para o Portal Notícias do Vale. Trabalha como Assessor de Comunicação, sendo redator e repórter. É comentarista e repórter do Programa Fala Povão e âncora do Jornal do Meio Dia, ambos transmitidos pela radiodifusora Tropical FM 93,1 que pertence ao grupo Rede Sul Bahia de Comunicação. Cursa História pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. É membro de dois centros de pesquisa, o Centro de Estudos e Pesquisas Intercultural e da Temática Indígena - CEPITI vinculado à UNEB e o Núcleo de Estudos em Transculturação, Identidade e Reconhecimento – NETIR vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo – UFES e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ. Educador e jornalista apaixonado pelo poder de transformar vidas e a nossa sociedade através da educação e comunicação. Atualmente ministra aulas de Ciências, Geografia e História na educação básica na rede pública de ensino, sempre acreditando no poder transformador que o aprendizado proporciona. Pautando sempre o protagonismo do estudante onde trabalha à liberdade e a empatia, acreditando em um ensino de qualidade que formam indivíduos conscientes, capazes de ler o mundo e transformá-lo. Em uma sociedade tão dinâmica, em que a todo momento surgem novidades e novas demandas, a educação e a comunicação se faz fundamental para o desenvolvimento humano, já que diz respeito ao ato de formar cidadãos preparados para viver e acompanhar essas mudanças.

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