UFBA divulga Carta sobre a declaração de Lula que jogos digitais provocam violência e não educam
Universidade Federal da Bahia - UFBA faz carta aberta à sociedade com o objetivo de desmistificar tais ideias
Após declaração do presidnete Lula que os jogos digitais provocam violência e não educam, a Universidade Federal da Bahia – UFBA, a comunidade de pesquisadores, professores, coordenadores de curso e desenvolvedores de jogos, fizeram uma carta aberta à sociedade com o objetivo de desmistificar tais ideias.
Carta aberta a comunidade sobre a relação Jogos digitais e violência;
Pesquisadores, professores, coordenadores de curso e desenvolvedores de jogos digitais no
Brasil divulgaram uma carta aberta para alertar a sociedade de que os jogos digitais não são
responsáveis por atos violentos. Além disso, destacaram que agências de fomento estaduais
e federais têm investido em projetos de jogos digitais voltados para a educação, com a
obtenção de resultados positivos, e que as pesquisas comprovam o potencial desses jogos
como mediadores de ensino e aprendizagem.
A carta aberta apresenta uma posição clara contra o senso comum que associa jogos digitais
a atos violentos e comportamentos agressivos. Seus autores enfatizam que diversos estudos
acadêmicos já demonstraram que não existe uma relação direta entre jogar jogos digitais e
comportamentos violentos. Além disso, ressaltam que os jogos digitais são produtos culturais
importantes e que, como tal, podem trazer benefícios à sociedade.
Também argumentam que os jogos digitais podem se constituir em espaços para o ensino e
a aprendizagem, estimulando a criatividade, o pensamento crítico, a resolução de problemas
e o trabalho em equipe.
Os autores da carta destacam que as pesquisas realizadas no Brasil e no Exterior têm
demonstrado as várias possibilidades de utilização dos jogos digitais em diversos contextos
educacionais, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior, e que podem ser aplicados
em disciplinas como Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa, entre
outras.
Em resumo, a carta aberta dos pesquisadores, professores, coordenadores de curso e
desenvolvedores de jogos digitais no Brasil é uma resposta à ideia equivocada de que os
jogos digitais são responsáveis por atos violentos. Além disso, a carta destaca a importância
dos jogos digitais como mediadores de ensino e aprendizagem e a necessidade de valorizálos como produtos culturais relevantes. Por fim, os autores da carta pedem que a sociedade
brasileira apoie o desenvolvimento de jogos digitais educativos e que reconheça o potencial
desses jogos como ferramentas de transformação social.
À comunidade brasileira,
Nós, coordenadores e professores de Cursos de Games, graduações em licenciaturas,
desenvolvedores e pesquisadores transdisciplinares de jogos digitais, viemos através desta
carta aberta à comunidade brasileira esclarecer e nos posicionarmos frente às declarações
recentes do Excelentíssimo Presidente da República, Senhor Luiz Inácio “Lula” da Silva, sobre
jogos digitais não educarem e provocarem violência. Os jogos digitais são artefatos culturais
complexos e diversos, e uma longa trajetória de pesquisa na área demonstra que a
associação simplória entre games e violência é não apenas equivocada, mas possui o
potencial de distorcer uma discussão séria sobre as raízes da violência.
Gostaríamos de esclarecer que as agências de fomento federais, como FINEP, CAPES e CNPq,
assim como as fundações de apoio à pesquisa dos estados e secretarias de educação e
cultura dos estados, vêm financiando tanto a pesquisa como o desenvolvimento de jogos
digitais para educação ao longo dos últimos 20 anos.
Inúmeros jogos com fins educativos, culturais, artísticos e poéticos têm sido desenvolvidos
com base em pesquisas acadêmicas, com a finalidade de mediar o processo de ensinoaprendizagem de diversas disciplinas. Tais agenciamentos sociotécnicos são capazes de
promover o engajamento e o interesse tanto dos estudantes como dos professores, além de
contribuírem para o desenvolvimento de habilidades como a resolução de problemas e o
pensamento crítico.
Assim como na Educação, História, Geografia, Filosofia, Exatas e áreas biológicas, há diversas
outras aplicações para os jogos, como aqueles voltados a várias áreas da Saúde. Jogos
digitais podem ser utilizados como recursos valiosos em tratamentos psicológicos,
fisioterapêuticos, como meios de promoção da saúde bucal e nutricional, bem como, em
áreas de promoção da cultura popular, promoção dos povos originários, dentre outras
possibilidades. E, nesse sentido, os jogos digitais dão uma mostra cabal de que são meios
que permitem proporcionar melhor qualidade de vida às pessoas, inclusive respeitando os
rigorosos padrões éticos aplicados ao desenvolvimento de produtos e serviços de saúde.
Além disso, as Universidades têm desempenhado um papel fundamental na formação de
profissionais para a indústria de jogos digitais, bem como para o ensino e a pesquisa na área.
Os cursos de graduação e pós-graduação em Jogos Digitais e áreas afins formam
profissionais altamente capacitados para atuarem no desenvolvimento de jogos educativos e
na indústria de games. Se levarmos em consideração apenas os cursos de graduação, são
mais de 280 em instituições de todo o Brasil, que vêm formando milhares de profissionais
capacitados ao longo do tempo para atuarem nessa indústria.
Destacamos que o primeiro curso nesta área iniciou suas atividades em 2003, portanto,
completando 20 anos da formação em nível superior no Brasil e esse é um dado significativo,
já que cursos de graduação, assim como os de pós-graduação, passam por avaliações
rigorosas conduzidas por instâncias governamentais, mais uma vez corroborando ser o
desenvolvimento de jogos digitais uma atividade pensada em termos legais, morais e éticos.
Ao longo desses 20 anos, muitos profissionais de diversas áreas vêm empreendendo
esforços como docentes para proporcionar formação de qualidade e aumentar a visibilidade
da indústria brasileira de jogos digitais.
Por fim, gostaríamos de reforçar que a afirmação do Presidente Lula sobre jogos digitais não
educarem e provocarem violência vai contra as pesquisas e os dados que existem sobre o
tema, que vem sendo estudado há décadas em instituições brasileiras e de outros países.
Destacamos que relacionar os jogos digitais com comportamentos violentos, se constitui em
uma leitura reducionista e de causa e efeito que não se comprova, sem considerar que a
violência é um epifenômeno que exige uma análise mais complexa considerando distintos
fatores, entre eles: mitificações nacionais, ideologias fascistas, questões sociais,
econômicas, culturais, psicológicas, entre outras. Nesse sentido, exortamos a comunidade
intelectual, sócio-política e cultural a participar do debate no sentido de conduzir uma
adequada discussão do tema dos jogos digitais e, igualmente buscar as reais causas da
endemia da violência no Brasil atual em suas verdadeiras causas, as quais radicam em bases
sócio-culturais que residem na negação das diferenças humanas, na exacerbação da
diferença social, na promoção do ódio a partir de ideologias intolerantes e fascistas,
machistas, sexofóbicas, etc.
Nesse sentido, cremos estar no devido dever e direito de exortar ao nosso Excelentíssimo
Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, a entrar no diálogo conosco e ter, com
isso, a possibilidade de rever e pensar junto conosco, fraterna e democraticamente, a sua
anterior posição, isto no sentido de construirmos juntos, cada vez mais uma sociedade aberta,
fraterna e democrática.
É importante que a sociedade esteja atenta às possibilidades educacionais oferecidas pelos
jogos digitais e que os governantes apoiem o desenvolvimento e o uso dessas tecnologias
como espaços ricos de sentidos para o aprendizado.
Assinam esta carta:
Pesquisadores, coordenadores e professores de licenciaturas em História, cursos de Games
e desenvolvedores:
Adriano Willian da Silva Viana Pereira- Professor de Física do IFPR campus Curitiba. e
Diretor-geral do IFPR- campus Curitiba.
Alan Henrique Pardo de Carvalho – Docente e Coordenador do Curso Superior de
Tecnologia em Jogos Digitais da Fatec São Caetano do Sul e da Faculdade Impacta. Docente
no Bacharelado em Jogos Digitais do Centro Universitário Senac (SP).
Andrea Volante Costa – Docente, Faculdade Impacta, disciplina de Sociedade e
Sustentabilidade.
Angela Tomiko Ninomia – Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais
das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU
Breno José Andrade de Carvalho – Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos
Digitais, professor do Mestrado em Indústrias Criativas e assessor do Núcleo de Inovação
Tecnológicas da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP.
Carmen Lúcia Castro Lima – Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Docente do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais
Carlos Alberto Paiva – Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais da Fatec
Carapicuíba-SP e Mestrando em Pesquisa de Jogos Digitais na Educação pela Escola Politécnica
da USP.
Carolina Pedroza de Carvalho Garcia- vice-Coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades
Virtuais – UNEB.
Christiano Britto Monteiro dos Santos – Prof. Adjunto de Ensino de História da Universidade
Federal Fluminense. Coordenador do grupo de produção de roteiros G.A.M.M.E – Grupo de
Análises de Metodologias Midiáticas para a Educação.
Cristiano Max Pereira Pinheiro – Coordenador do Mestrado em Indústria Criativa da Universidade
Feevale. Docente da Graduação em Jogos Digitais. Coordenador do Laboratório de Criatividade da
Universidade Feevale, e do Projeto de Implantação do Cluster de Jogos Digitais do RS.
Delmar Galisi Domingues – Coordenador do Curso de Graduação de Design de Games da
Universidade Anhembi Morumbi
Denise Maria Vecino Sato – Coordenadora do curso Técnico em Programação de Jogos
Digitais do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Curitiba.
Dulce Márcia Cruz – Professora do Departamento de Metodologia de Ensino e da Pósgraduação em Educação e líder do Grupo Edumídia/CNPq, da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC).
Fernando Silvio Cavalcante Pimentel – Professor no Programa de Pós-graduação em
Educação do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas e líder do Grupo de
Pesquisa Comunidades Virtuais Ufal.
Felipe F. Costa, Coordenador do Curso de Jogos Digitais do Centro Universitário IESB de
Brasília
George Leonardo Seabra Coelho – Coordenador do Programa de Pós-graduação em
História das Populações Amazônicas (UFT) e Líder do Grupo de Pesquisa em Mídias,
Tecnologias e História (MITECHIS/CNPq).
Guilherme Orlandini – Docente de diversas disciplinas no curso de Tecnologia em Jogos
Digitais da FATEC Ourinhos. Mestre em Ciência da Computação.
Hellen Christina Gonçalves – Docente do curso Técnico em Programação de Jogos Digitais
do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Curitiba.
Irlan Santos Nascimento – CEO e Líder GameDev na Bragi Estúdios.
Jesse Nery Filho – Coordenador do curso de Licenciatura em Ciências da Computação do
Instituto Federal Baiano – Campus Senhor do Bonfim. Docente de Jogos Educacionais
(IFBAIANO).
Luís Carlos Petry – Professor aposentado da PUC-SP. Programa de Pós-Graduação em
Tecnologias da Inteligência e Design Digital, Criador do Curso de Jogos da PUC-SP,
Consultor extrangeiro da FCT (Portugal). Pesquisador Líder-Sênior do Projeto da Política de
Jogos Digitais do BNDS e Consórcio de Universidades.
Luiz Adolfo Andrade – Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Luiz Cláudio Machado – Docente e Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos
Digitais do Campus Lauro de Freitas do Instituto Federal de Educação , Ciência e Tecnologia
– BAHIA.
Lynn Alves – UFBA/IHAC – Coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais –
UFBA
Mônia Naomy Nakagawa – Vice-coordenadora do curso Técnico Programação de Jogos
Digitais do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Curitiba.
Paulo Marcelo Spínola Ramos Pereira e Pereira – Professor na Graduação Tecnológica em
Jogos Digitais (UNEB) e mestrando em Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC).
Rafael Baptistella Luiz – Mestre em Design na linha de Jogos pela UFPR, docente da
disciplina de Design de Jogos na Universidade Positivo, Curitiba, PR.
Rafael Marques de Albuquerque – Professor do curso de design de jogos na Escola
Politécnica da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).
Rafaella Moraes B Vieira – CPO e Líder Game Designer na ERA Game Studios.
Reinaldo A. O. Ramos – Docente e Coordenador do Bacharelado em Jogos digitais da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e ESPM.
Renan Caldeira Menechelli – Docente, Coordenador EaD e Coordenador do curso de
Jogos Digitais do UNISAGRADO (Bauru/SP), Mestre em Ciências (USP/São Carlos),
Especialista em Tecnologia Java (UTFPR/Cornélio Procópio) e Bacharel em Ciência da
Computação (UNISAGRADO/Bauru).
Sérgio Roberto Delfino – Docente no curso de Tecnologia em Jogos Digitais da Faculdade
de Tecnologia de Ourinhos.
Suiane Costa Ferreira – Coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais – UNEB
Tharcisio Vaz de Moraes – UNEB/UFBA – Professor na Graduação Tecnológica em Jogos
Digitais (UNEB) e Doutorando em Composição Musical para Games (UFBA)
Tiago Vinícius Ficagna – Docente e pesquisa da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí)
Willians Monteiro da Silva, Docente de diversas disciplinas no curso de Jogos Digitais da
FATEC Antônio Russo – São Caetano do Sul. Especialista em desenvolvimento de software
na Indústria.
Crédito: Ascom